segunda-feira, 14 de junho de 2010
terça-feira, 19 de agosto de 2008
Divagações poéticas da côr
Um arco-íris de sonho desabrocha.
É uma vida – o futuro – a irromper do nada
Numa cabeça jovem toda alvoroçada.
É um coração sentido a divagar
A colorir terra, céu e mar.
Num abraço de cores sobressaltadas
Duendes e tritões soltam gargalhadas.
Devagar, devagar e sempre a divagar
Uma menina prendada pinta céu e mar.
À arte se entrega, à arte se dá
À procura do muito que ainda não há.
Com sensível mestria vai criando beleza
Para bem da humanidade e exaltação da natureza.
André Moa
Recordar é rever...
De que cor será o infinito?
Quantos céus a atravessar?
Quantas pontes de granito
Para o sustentar?
De que formas geométricas será feito?
No infinito um hexágono imperfeito
Será uma circunferência por defeito
Ou um favo de mel a visitar?
O infinito sem mim não me diz nada.
Falta-me a distância e a estrada
Para o alcançar.
Eu sou o infinito a cada dia
À procura da eterna melodia
Que só no infinito da alegria
Poderei escutar.
André Moa
sábado, 19 de julho de 2008
DESFALECE O PRANTO EM RIO
SOSSOBRAM LUAS
E AS ÁRVORES
EM PLENA PRIMAVERA FICAM NUAS
EM SOBRESSALTO OS PÁSSAROS
PERDEM O SABER DAS ASAS
O PREGÃO DO BICO
A PROTECÇÃO DAS PENAS
A TERNURA DO AZUL DESFAZ-SE
EM BRASA
AS CASAS TRANSFORMAM-SE EM LÍQUIDAS GRUTAS
ONDE JAZ
O ETERNO OLIMPO DOS PASTORES DE SONHOS
O AMOR E A PAZ
SAUDADES DE AMADOS LÁBIOS
SOBREVOAM AS ÁGUAS
À PROCURA DE CORPOS PRESSENTIDOS
NO FULGOR DAS MARGENS
(André Moa)
segunda-feira, 30 de junho de 2008
.
São as memórias que sustentam a leveza do ar,
num exercício renovado de mistérios lentos
anunciadores dos sonhos.
.
Vivem em nichos vagabundos,
perto do ruído das ruínas,
longe dos rios que não descansam
no ombro da margem
num tempo para fruir a leveza dos malmequeres
abruptos dos caminhos.
.
Acendem-se noutras memórias
e refazem os aromas antigos,
as cores redundantes
da paisagem que flúi, já ontem.
Reinício de colaboração com o poeta André Moa
Pi
Ná
Culo
De
Catedral
A pedra ora
Canta e chora
Dedos hirtos
Mãos ressequidas
Aos céus erguidas
Roga à nuvem que passa
Desabafos de água
Para que lhe nasçam
Húmidos veios
Abundantes seios
É da íntima robustez do fraguedo
Que a água brota ainda que a medo
Aparência ressequida
Embrião de vida
A pedra constrói
Nos mais altos montes
Castelos discretos
Vetustas catedrais
Sussurros de fontes
Lágrimas de sal
Átomos de quimera
Prenúncios de Primavera
(André Moa)
sábado, 21 de junho de 2008
Sinais de vida e morte
(Pintura de – DAD)
SINAIS DE VIDA E MORTE
Que rio é este que emerge
Do íntimo da terra
E se ergue em socalcos de espanto?
Que rio é este onde o azul
Lúcido e transparente se incendeia
Em vermelhos de dor e aflição?
Que barcos de presságio o atravessam
Como se fossem ilhas flutuantes
Pontes em construção
A ligar para todo o sempre
O caos e a perfeição?
Que rio é este manso e promissor
Que se alimenta de sangue e de suor?
Que rio é este que me faz
Escravo
E me chama de senhor?
Que rio é este que me dá alento
Se nele me afundo?
Que rio é este que nasce e morre em mim
E é maior que o mundo?
(Poema de André Moa)
quinta-feira, 5 de junho de 2008
Memória de Flor
Contemplo e respiro uma flor;
Vem-me à memória o perfume do amor.
E logo se avoluma a tentação de aprofundar
Os meandros da flor
E do amor.
Uma flor é uma flor.
Pedúnculo, cálice e corola
Sépalas e pétalas
Androceu e gineceu.
E o amor?
O amor é o amor.
E mais não sei dizer.
Sei que viver sem amor não é viver.
Faz lembrar o estertor da morte antes do tempo aprazado.
Se muito amei muito mais teria amado
Se a vida me tivesse consentido
Manifestar todo o amor sentido.
Segurei o pedúnculo do amor e fiz dele uma bandeira,
Um arauto para a vida inteira.
Das sépalas do amor fiz o meu cálice de amargura e de prazer
Das pétalas coloridas alimento,
Meu sustento,
Meu modo de sentir e de viver.
Androceu
De estames assanhados
Vou emitindo ao gineceu
Os meus recados
Para não sucumbir neste vale de lágrimas reprimido
Neste mar encalhado
À espera do melhor:
Do amor ainda não vivido.
Será o amor este perene desejo
Que transforma uma carícia
Um beijo
A mais leve blandícia
Em fonte de doçura e comunhão?
Talvez sim… talvez não…
Será o amor
Este movimento
Ora lento
Ora apressado
Este bater compassado
Do berço à sepultura
Entre o ódio e a ternura
Deste nosso humano coração?
Talvez sim… talvez não…
André Moa
Paisagem em tempo de outono
(Poema de barcos e flores-Dad)
" É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer. "
Eugénio de Andrade (1923 - 2005)